segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

José Castro, um pedreiro muito veloz

Douglas Torraca


É dura a vida de um carpinteiro em um canteiro de obras. São oito horas carregando peso sem parar. Mas, para José Castro, o dia está só começando. Depois do batente, ele vai trocar de roupa. É o momento de percorrer alguns trechos da cidade, correndo. Então, ele e a filha Janete Pereira Castro, de 25 anos, logo marcaram um encontro e vão treinar juntos em volta de um lago de Prudentópolis. “Treino mais na parte da noite por falta de tempo. Costumo correr de 40 a 50 minutos por dia. Aos sábados e domingo pela manhã, os treinos também são bem puxados. Quando está chovendo muito forte e não dá pra correr, improviso em casa na bicicleta ergométrica ou esteira”, comenta.
Esta é a rotina diária do pedreiro de 48 anos que pratica corrida há 22 anos e já participou de duas edições da Meia Maratona de São Sebastião, em Laranjeiras do Sul, o seu primeiro desafio deste ano no atletismo agendado para as 9 horas do dia 24 de janeiro.
Ele nasceu em Guarapuava e há quatro anos está radicado em Prudentópolis. No entanto, ainda possui vínculos e uma forte ligação com a terra natal. No inicio da carreira, conta ele, praticava atletismo por exigência médica. Com o decorrer dos anos, a obrigação se transformou em paixão. Desde então, corre de 28 a 30 quilômetros por dia. "Senti a necessidade de começar a praticar por causa da saúde. Aos 28 anos, com diabetes e problemas na coluna, foi difícil largar dos vícios. O médico pediu, parei de fumar e beber para correr ", explica.
Sua satisfação com o esporte serviu de exemplo aos três filhos. Em Laranjeiras, entre seus pupilos, além do patriarca, a família Castro estará representada apenas por Janete. Será a terceira vez que ela participará da prova. A maratonista foi campeã geral da São Sebastião em 2008.
Apesar da rotina pesada que se divide entre a construção de uma casa e o treinamento forte para a meia maratona, ele agüenta com muita disposição. “Com 22 anos, nunca me machuquei ou abandonei uma corrida”, conta.
O atleta não tem patrocínio nem segue uma alimentação especial, mas está confiante em conquistar um bom lugar no pódio e melhorar sua marca anterior no percurso de seis quilômetros de terra da prova.
Em 2008, completou a etapa em 19 minutos e sagrou-se campeão. Já no ano passado aumentou seu tempo para 21 minutos e 42 minutos, chegando na reta final em segundo lugar debaixo de muita chuva.
Este ano, a intenção do velocista é voltar a cravar os 19 minutos e ocupar o lugar mais alto do pódio. Por isso, Castro exalta a importância da corrida.“É uma corrida rústica, curta e de velocidade e bem puxada. Quanto mais curta, mais rápido é o percurso”, avisa o pedreiro.
Castro gosta mesmo é de ganhar medalhas em maratonas. Ele totaliza em sua coleção mais de 40 medalhas e troféus. O atleta destaca entre suas maiores vitórias, as provas de Guarapuava, em 2005, e Balneário Camboriú (SC), em 1995, onde residiu por alguns anos e chegou a competir em uma prova com mais de quatro mil inscritos. “Fui para Camboriú e arrumei serviço. Fiquei trabalhando e correndo por lá durante três anos. Nessa época, estava com 34 anos e fiz o percurso de 17 minutos nos cinco mil metros de prova”, revela.
Porém, as despesas que envolvem a participação em uma corrida acabaram afastando Castro dos grandes eventos em Santa Catarina e São Paulo. Também foi por falta de incentivo que seus filhos Lucimar, 21 anos, e Silmara Pereira, 16, deixaram de competir. . “Eles treinavam bem, mas quando tinha uma competição não poderiam ir por falta de passagens”, lamenta.
Sem amparo do poder público local, o maratonista confessa que é difícil conseguir patrocínio e angariar recursos para bancar gastos com inscrição, além de tênis, bermuda, camiseta. Com isso, recorre a antigos conhecidos e busca apoio de comerciantes em Guarapuava. “Aqui é complicado. Só conseguimos o ônibus com a prefeitura para participar de algumas corridas. Não adianta só passagem. Alimentação e outras coisas saem tudo do nosso próprio bolso. Não é fácil, vou competir porque gosto mesmo. Com um bom patrocínio e tendo uma alimentação correta poderia chegar entre os dez melhores colocados na minha categoria. Mesmo treinando mal e com o tempo que faço, estou correndo bem”, avalia.
Nem por isso já sentiu o peso da idade e nem mudou de foco. A força de vontade de Casto incentivou dezenas de garotos que aproveitam as oportunidades das provas disputadas por Castro para começar a treinar com ele.
A solução seria criar uma escolinha para os pequenos atletas. Porém, o custo é muito alto e dificulta a entrada dos meninos no esporte. “Só falta um empurrãozinho. Vejo a criançada correndo descalça. Eles têm vontade, mas falta apoio. Se montasse uma escolinha seria bem melhor”, declara.

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